Então eu saí e fui dar uma volta pelo parque. Foi quando vi o Matheus sentado no banco.
Ele parecia triste, meio que choramingando. Fui ver o que tinha acontecido.
Mas me lembrei de que não estava falando com ele.
Então, decidi fingir que não estava nem aí, resolvi sentar do lado dele, no banco, como se nada estivesse acontecendo.
Sentei, ele me olhou (com a cabeça ainda baixa) e depois levantou a cabeça.
- Olá.
- Que parte do não olha, não fala, não...
-Aí, desculpa. Mas pode sentar em outro banco? Não to com paciência hoje. E com você aqui, não posso.
- Não pode o que?
- Não posso ficar sem falar com você, preciso de alguém pra desabafar, e com você do meu lado, não consigo ficar quieto.
- É... Bem, veja, eu disse que não era pra você falar comigo, mas não disse que eu não podia falar com você, então, vamos lá. Pode desabafar.
Ele se virou para o meu lado e começou a falar:
- A Bianca, depois de ler a conversa dela, resolvi vasculhar seu guarda roupa.
- E o que tem de mal nisso? Se sente arrependido?
- Não, achei umas latinhas de cerveja, algumas cheias, e outras vazias.
Nesse momento, nos calamos. Fiquei nervosa, não sabia o que dizer... Simplesmente abaixei a cabeça e chorei levemente e um pouco.
- Você tem certeza de que eram latinhas de cerveja?
- Tenho, estava escrito o nome da cerveja e lá traz estava escrito o que era.
- Temos de falar com ela! Antes que ela faça alguma besteira pior.
- Não! Pra que vamos falar com ela? Pra ela esculachar agente? Dizer que ela manda em sua própria vida, que pode fazer o que quiser? Que não devemos nos intrometer? Não vale a pena. Temos de conferir se ela ta...
- Não! Desta vez não concordo com você! Temos que falar com ela! É urgente, se fizer algo errado, quem vai se ferrar é você, ela é menor de idade. Você é responsável por ela!
- Tem razão. Então pelo menos vamos esperar até amanhã, se ela não contar nada pra nós, conversamos com ela.
- Tudo bem, mas não podemos demorar muito, não quero que ela fique igual ao meu pai.
- Seu pai? O que tem seu pai?
- Ele bebe muito, fica bêbado umas três vezes por semana, e hoje minha mãe teve de busca-lo no bar do Marcio por que ele estava fazendo um barraco lá por que queria beber de graça. E agora ela o expulsou de casa e eu disse pra ele entrar em uma clinica. Para parar de beber e voltar pra casa.
- Nossa, parece que nós dois estamos com problemas familiares, hein?
- Não, meu pai vai melhorar, ele vai entrar na clinica e vai ficar melhor, sem falar que ele já é um maior, já sabe cuidar de sua própria vida. Já a Bianca, não. Ela é menor e a vida dela praticamente está em nossas mãos, depende de nós.
- De você não, de mim, eu sou o irmão dela e se você quiser pular fora desse esquema todo.
- Não vou pular fora! Ela é minha amiga, gosto muito dela e quero seu bem. E você também, não vou te deixar sozinho nessa, você é um idiota, que só faz merda e só fala besteira. Mas mesmo assim, eu te considero meu amigo, eu te amo. Não como namorado, é claro.
- Own, que fofa. Eu também te amo. Da mesma forma. Amiga!
Então chegamos um pra perto do outro, quase nos beijamos...
Mas aí, me lembrei de que ele estava namorando. Então logo cheguei pra traz.
- O que ouve?
- Não podemos nos beijar. Você ta namorando não se lembra. A Karen.
-Ah é mesmo.
- Que estranho, pode me dizer quem é essa Karen?
- Por quê? Quer mata-la?
- Claro que não, seu doido!
- Uhum, sei!
Então meu celular tocou, era minha mãe, dizendo que já estava na minha hora de ir pra casa. Então eu disse que já estava indo.
- É a minha deixa. Tenho que ir. Mas olha, essa eu deixo passar, mas só essa, hein?
Então eu fui pra casa.
- E aí?
- E aí, o que, mãe?
- O que aconteceu lá no parque?
- Nada.
- Stella bela, ninguém vai pro parque cheia de raiva, fica lá por duas horas, e depois volta meio feliz e preocupada, ao mesmo tempo. O que aconteceu?
- Assunto meu, mãe!
- O que aconteceu, filha? Você sabe que pode confiar em mim, sou sua amiga, lembra?
- Fiz as pazes com o Matheus e ele descobriu, hoje, que a Bianca anda bebendo umas cervejas.
- Ai caramba, filha, e aí?
- Agente vai esperar até amanhã, se ela não contar nada para agente, nós vamos falar com ela.
- Filha, você sabe que...
- É, eu sei, ela não vai falar nada com agente, mas... Não custa nada, né mãe?
- É né, vai ver...
- Exatamente, mas esse é um assunto pra amanhã, hoje já ta tarde e eu quero dormir, ok?
- Ok. Boa noite!
- Tchau.
Fui para o quarto. Dormi. No outro dia...